FMI quer emergentes preparados para fuga de dólares
LUCIANA COELHO - DE WASHINGTON
O FMI (Fundo Monetário Internacional) aponta progresso na redução de riscos nos mercados mundiais, mas alerta que reformas como a maior integração fiscal e financeira da Europa e o fortalecimento do sistema bancário ainda precisam ser priorizadas.
Se não o forem, consequências como a saída de capitais dos países emergentes minariam o avanço global, com impacto de até 2 pontos percentuais no PIB de países como o Brasil, ressalta o FMI em seu relatório anual Avaliação de Estabilidade Financeira Global, lançado hoje em Washington
"Para um país como o Brasil, que recebeu um montante enorme de capital estrangeiro neste período [de crise], o impacto sobre o crescimento poderia chegar a dois pontos percentuais, mesmo com as reservas [do país] sendo suficientes para cobrir necessidades financeiras de curto e médio prazo", afirma o documento.
O relatório ressalta que a inundação de dólares, provocada pelas políticas monetárias expansionistas e de liquidez nos países ricos --que aumentaram a quantidade de dinheiro em circulação e acabaram, na prática, por desvalorizar suas moedas-- criou, somada à atratividade dos mercados emergentes, novas vulnerabilidades.
Na semana passada, a diretora-gerente do fundo, Christine Lagarde, descreveu esses mercados como um "ímã de dinheiro".
'RISCO DE MÃO DUPLA'
"Os responsáveis pela política econômica destes países enfrentam um risco de mão-dupla, e devem estar também preparados para uma fuga repentina de capitais", destaca o FMI.
O governo brasileiro tem criticado as economias avançadas pelas políticas de afrouxamento, que elevam o real e outras moedas emergentes e criam obstáculos à exportação.
Na definição da presidente Dilma Rousseff e do ministro Guido Mantega, trata-se de "protecionismo cambial".
Uma das respostas tem sido o anúncio sucessivo de medidas pró-indústria, apontadas pelos governos e empresários de alguns países ricos, por sua vez, como barreiras protecionistas.
BRASIL
O FMI não avalizou, até agora, a posição brasileira, assentindo com o afrouxamento nos países ricos --embora note que ele não deve ser ilimitado nem desacompanhado de mais correções.
Mas, ao apontar as vulnerabilidades, reconhece a dificuldade criada pelo intenso fluxo de entrada de dólares.
Embora o FMI tenha afirmado ontem que o risco de superaquecimento na economia brasileira se dissipou, e o relatório afirme que a rápida expansão do crédito no país tenha ajudado a limitar as turbulências em 2009, o fundo ressalta que a contínua expansão nos ativos dos bancos levou a um aumento dos empréstimos de baixa qualidade, sobretudo no mercado imobiliário.
"Nessas circunstâncias, a margem de manobra para o uso do canal de crédito para mitigar choques negativos pode ser limitada", alerta.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1077711-fmi-quer-emergentes-preparados-para-fuga-de-dolares.shtml
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