quinta-feira, 5 de abril de 2012

A polícia brasileira mata mais do que fere

Um pacote de bolacha, um energético

Roberto, um estudante de Administração da PUC de São Paulo, estava na Austrália estudando inglês. Às 5:30 da manhã de um domingo, voltava a pé para casa quando foi perseguido por policiais, suspeito de roubar um pacote de bolacha em uma loja de conveniência. Por algum motivo, por medo, por não saber que se tratavam de policiais, por estar bêbado ou mesmo por achar que a polícia australiana não seria diferente da polícia brasileira, Roberto correu.
Os policiais australianos perseguiram Roberto durante algum tempo até que conseguiram atirar nele com um Taser, uma arma que dispara choques elétricos que seriam, hipoteticamente, não letais. Sem camisa, caído no chão, o brasileiro ainda recebeu mais três disparos de choque. A polícia australiana e sua arma não letal mataram um jovem estudante brasileiro.
Muito longe dali, do outro lado do mundo, na extrema Zona Sul da cidade de São Paulo, Henrique, um funcionário do McDonald's do Shopping Interlagos, que, com salário de 700 reais ajudava a família, voltava a pé para casa, após o aniversário de uma amiga. Perto dali, horas antes, um supermercado havia sido assaltado. Os amigos presentes na festa acharam por bem, como medida de segurança, voltar juntos para as casas.
No trajeto, o grupo passou em frente ao supermercado. Segundo a polícia, um deles pegou uma lata de energético que estava na calçada, provavelmente derrubada na fuga dos assaltantes. Neste momento, dois policiais começaram a atirar instantaneamente pelas costas. O primeiro dos tiros atingiu a nuca de Henrique, que caiu no chão. Veio um segundo tiro, à queima roupa, na testa. Henrique foi executado por policiais sem a menor chance de defesa.
Imediatamente os assassinos forjaram uma cena de "auto de resistência", colocando uma arma de numeração raspada na mão do morto, como talvez estivessem acostumados a fazer sempre visto que os policiais carregavam um revólver ilegal, frio, sem número de série. Afinal, por aqui, ser bandido é condição suficiente para ser sumariamente executado.
É impressionante o número de pessoas mortas "em confronto com a polícia", que de tão alto levanta suspeitas. A polícia brasileira mata mais do que fere, proporção que não se observa em outros países, o que leva ao questionamento da sua eficácia. Temos os melhores atiradores mundiais ou simplesmente os "autos de resistência" vêm sendo usados como forma de mascarar execuções sumárias?
A morte de Roberto, o estudante brasileiro que estudava na Austrália, por uma arma "não letal", assim como a morte de Jean Charles em Londres, causou comoção nacional com toda a justiça. O assassinato de Roberto pela polícia da Austrália virou pauta de dezenas de jornais, de telejornais, e do excelente programa "Profissão Repórter". A morte de Jean Charles, assassinado pela eficiente polícia londrina, virou até filme.
A execução de Henrique, funcionário de uma lanchonete num shopping da Zona Sul de São Paulo, quase passou despercebida. Poucos veículos a noticiaram, pouca gente se comoveu com seu destino brutal, friamente executado por dois policiais que, além de tudo, quiseram manchar seu nome, armar uma falsa resistência para maculá-lo como bandido. Foi morto sem direito à defesa, nem da vida e muito menos do caráter.
A pergunta retórica que fica: Por que nos solidarizamos e nos comovemos com Jean e Roberto, mortos longe de casa por polícias estrangeiras, e não sentimos nada e nada fazemos quando a nossa polícia mata um de nossos concidadãos?

http://br.noticias.yahoo.com/blogs/on-the-rocks/um-pacote-bolacha-um-energ%C3%A9tico-184625867.html

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