Jornalista Helena Sthephanowitz obtém documento precioso, que ficou
guardado durante 50 anos, sobre o papel de Roberto Marinho na ditadura
militar que atirou o País às trevas durante 21 anos; nele, o embaixador
Lincoln Gordon relata a seus superiores suas conversas com o então
presidente das Organizações Globo; ambos discutiam a sucessão de Castelo
Branco e o endurecimento do regime; a verdade é dura, a Rede Globo
apoiou a ditadura
Por Helena Sthephanowitz, da Rede Brasil Atual
No dia 14 de agosto do 1965, ano
seguinte ao golpe, o então embaixador dos Estados Unidos no Brasil,
Lincoln Gordon, enviou a seus superiores um telegrama então classificado
como altamente confidencial – agora já aberto a consulta pública. A
correspondência narra encontro mantido na embaixada entre Gordon e
Roberto Marinho, o então dono das Organizações Globo. A conversa era
sobre a sucessão golpista.
Segundo relato do embaixador,
Marinho estava “trabalhando silenciosamente” junto a um grupo composto,
entre outras lideranças, pelo general Ernesto Geisel, chefe da Casa
Militar; o general Golbery do Couto e Silva, chefe do Serviço Nacional
de Informação (SNI); Luis Vianna, chefe da Casa Civil, pela prorrogação
ou renovação do mandato do ditador Castelo Branco.
No início de julho de 1965, a pedido
do grupo, Roberto Marinho teve um encontro com Castelo para persuadi-lo
a prorrogar ou renovar o mandato. O general mostrou-se resistente à
ideia, de acordo com Gordon.
No encontro, o dono da Globo também
sondou a disposição de trazer o então embaixador em Washington, Juracy
Magalhães, para ser ministro da Justiça. Castelo, aceitou a indicação,
que acabou acontecendo depois das eleições para governador em outubro. O
objetivo era ter Magalhães por perto como alternativa a suceder o
ditador, e para endurecer o regime, já que o ministro Milton Campos era
considerado dócil demais para a pasta, como descreve o telegrama. De
fato, Magalhães foi para a Justiça, apertou a censura aos meios de
comunicação e pediu a cabeça de jornalistas de esquerda aos donos de
jornais.
No dia 31 de julho do mesmo ano
houve um novo encontro. Roberto Marinho explica que, se Castelo Branco
restaurasse eleições diretas para sua sucessão, os políticos com mais
chances seriam os da oposição. E novamente age para persuadir o
general-presidente a prorrogar seu mandato ou reeleger-se sem o risco do
voto direto. Marinho disse ter saído satisfeito do encontro, pois o
ditador foi mais receptivo. Na conversa, o dono da Globo também disse
que o grupo que frequentava defendia um emenda constitucional para
permitir a reeleição de Castelo com voto indireto, já que a composição
do Congresso não oferecia riscos. Debateu também as pretensões do
general Costa e Silva à sucessão.
Lincoln Gordon escreveu ainda ao
Departamento de Estado de seu país que o sigilo da fonte era essencial,
ou seja, era para manter segredo sobre o interlocutor tanto do
embaixador quanto do general: Roberto Marinho. Abaixo o documento:
http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/135796/Memo-secreto-p%C3%B5e-Globo-no-epicentro-da-ditadura.htm
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