domingo, 27 de maio de 2012

Grife de luxo mantinha trabalho escravo em confecções

Pessoas eram mantidas presas até acertarem dívidas com empregadores


No mesmo dia em que a grife de roupas femininas Gregory lançava a sua coleção Outono-Inverno 2012, uma equipe de fiscalização trabalhista flagrava situação de trabalho escravo nas oficinas de confecção da marca. A denúncia foi feita por uma reportagem da agência de notícias Repórter Brasil, publicada nesta sexta-feira (18).

Foram constatadas graves violações de dignidade de trabalhadoras e trabalhadores e de desrespeito a direitos fundamentais em quatro oficinas visitadas pelo Grupo de Combate ao Trabalho Escravo Urbano da Superintendência Regional de Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP). Os trabalhos tinham a liberdade cerceada, permaneciam em ambientes de trabalho e havia indícios também de tráfico de pessoas em um dos estabelecimentos.
Na primeira oficina, por exemplo, uma jovem trabalhadora mantinha o filho recém-nascido no colo amamentando, enquanto costurava um vestido de renda. Neste mesmo local, armários estavam trancados com cadeado para que as pessoas não pudessem comer sem autorização. Os empregados também confirmaram que precisavam da autorização do dono da oficina para deixar o imóvel, que servia ao mesmo tempo de moradia precária e de unidade de produção têxtil improvisada. 
Marido de Inês, Pedro**, de 30 anos, relatou que trabalhava das 7h às 23h, de segunda a sexta. A jornada era cumprida, segundo ele, "mesmo com os olhos fechando". Aos sábados, o turno seguia até às 13h. O casal chegou a trabalhar por três meses, de forma intensiva e sem nenhuma remuneração, para quitar a dívida de suas passagens, sinal claro da conexão da escravidão com o tráfico de pessoas.

O conjunto de inspeções resultou na libertação de 23 pessoas, todas elas estrangeiras de nacionalidade boliviana, que estavam sendo submetidas à condições análogas à escravidão. Não resta dúvidas que a empresa Gregory é a responsável pela produção das peças nas oficinas, concluiu a SRTE/SP.

- De todo o material a que a auditoria teve acesso, não resta dúvidas de que a empresa Gregory é a responsável pela produção encontrada nas oficinas de costura inspecionadas. 
egundo os representantes do órgão que atuaram no caso, a Gregory desenvolve a peça, escolhe e compra o tecido, corta e entrega os cortes prontos para os fornecedores. São dadas ainda instruções de como a peça final de roupa deve ser feita, sob pena de não pagamento, caso algo esteja diferente do exigido pela grife.

Ao todo foram lavrados 25 autos de infração contra a Gregory. Um dos autos refere-se à discriminação étnica de indígenas Quechua e Aymara. De acordo com análise feita pelos auditores fiscais do trabalho, restou claro que o tratamento dispensado aos indígenas era bem pior que ao dirigido aos não-indígenas que trabalham na sede da companhia, no bairro de Pinheiros. A Gregory recebeu os autos de infração na última terça-feira (15).

A empresa se recusou a assinar um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), proposto pela procuradora do trabalho Andréa Tertuliano de Oliveira, que compôs a equipe de fiscalização em um dos flagrantes. A Gregory poderá ser incluída na chamada lista suja do trabalho escravo, cadastro mantido pelo governo federal que reúne empregadores flagrados utilizando trabalho escravo contemporâneo.

Os responsáveis também poderão responder em âmbito criminal pelo crime previsto no art. 149 do Código Penal.

R7 procurou a Gregory, mas a empresa não se pronunciou sobre a situação de trabalho escravo em suas confecções até a publicação desta reportagem.

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