sábado, 2 de março de 2013

Polícia de Santa Catarina mata 53% a mais entre 2010 e 2012

Luis Kawaguti - BBC Brasil

Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de Santa Catarina indicam que o número de pessoas mortas pela polícia do Estado aumentou 53% em um período de dois anos, entre 2010 e 2012.

O balanço mostra que as polícias militar e civil mataram 69 pessoas em 2012, em casos classificados como "resistência seguida de morte". O número é 19% maior que o registrado em 2011 (58 casos) e 53% mais elevado que o de 2010 (45).

A elevação da letalidade policial ocorre em um momento em que o Estado enfrenta ondas de ataques da facção criminosa PGC (Primeiro Grupo Catarinense) e recorre à ajuda de tropas da Força Nacional de Segurança para tentar conter a violência.
O governo de Santa Catarina afirmou, por meio de nota, que tal elevação se explica pela ação do crime organizado, pelo crescimento do tráfico de drogas e pelo aumento populacional. "Não lidamos mais com pessoas que cometem pequenos delitos ou crimes contra a honra, armadas com navalhas ou revólveres calibre 38. Os bandidos têm acesso a armas de grosso calibre, o que obriga a polícia (civil ou militar) a ter uma reação à altura", diz o texto.

Uma base de dados diferente, tabulada trimestralmente pela SSP, também sugere que as ações da polícia no Estado se tornaram mais letais. Ela mostra que ao mesmo tempo em que aumenta o número de assassinatos cometidos pela polícia catarinense, diminui o número de feridos em operações policiais. Foram 30 vítimas feridas em 2012 contra 54 no ano anterior – uma queda de 44%¨.
Mortes suspeitas
Cynthia Pinto da Luz afirmou que a comissão de direitos humanos da OAB suspeita que nem todos os assassinatos praticados por policiais nos últimos dois anos tenham ocorrido com o objetivo de defesa, como alega o governo.
Segundo ela, o órgão tem recebido denúncias de que entre os casos de "resistências seguidas de morte" podem ter ocorrido casos de abuso da violência e até eventuais execuções de suspeitos.
A secretaria de comunicação do governo do Estado afirmou que a corregedoria das polícias militar e civil "investiga e pune qualquer desvio de conduta".
Um dos mais recentes casos investigados pela comissão de direitos humanos da OAB – a partir de uma suspeita de abuso de violência por parte de policiais militares – é o do assassinato do auxiliar de produção Jean de Oliveira, de 22 anos, na cidade de Joinville, no dia 3 de fevereiro.
Ele foi morto com um tiro na cabeça, disparado por policiais militares, enquanto andava de moto com um amigo. Segundo a OAB, ele não estava armado e pode ter sido confundido por PMs com um criminoso ligado aos ataques do PGC.
"O meu filho foi morto como um bandido e enterrado como um bandido, mas ele não era. Podem me matar, mas eu vou provar que ele era inocente", disse à BBC Brasil a mãe da vítima, a auxiliar de serviços gerais Sueli Messias Onofre, de 42 anos.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/03/130225_mortes_policia_sc_lk.shtml

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