quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Nobel da Paz diz que Blair e Bush deveriam ser julgados em Haia pela Guerra no Iraque

Arcebispo Desmond Tutu se recusou a participar de conferência sobre liderança ao lado do ex-premiê britânico


O arcebispo sul-africano Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz e um dos heróis da luta contra o apartheid em seu país, fez duras críticas ao ex-presidente dos EUA George W. Bush e o ex-premiê britânico Tony Blair. Em um artigo ao jornal semanal britânico The Observer publicado neste domingo (02/09), Tutu diz que os dois deveriam ser julgados na corte internacional de Haia, na Holanda, “pela devastação física e moral causada pela [segunda] guerra do Iraque (2003)”.
No artigo, intitulado “Porque eu devo desprezar Tony Blair”, o líder religioso explica porque se recusou a se sentar ao lado de Blair na última semana durante uma conferência internacional realizada em Johanesburgo sobre "liderança".

Tutu diz que os argumentos usados por EUA e Reino Unido para liderar uma coalizão internacional e atacar o país árabe foram baseados em mentiras. O objetivo seria, segundo Tutu, unicamente derrubar o regime de Saddam Hussein. “Não posso sentar ao lado de alguém que justifica a invasão ao Iraque com uma mentira”. 
“A imoralidade da decisão dos Estados Unidos e do Reino Unido em invadir o Iraque em 2003, sob a premissa mentirosa de que o Iraque possuía armas de destruição em massa, desestabilizou e polarizou o mundo com uma extensão jamais vista em outro conflito na história”, escreveu o líder religioso.
Em 2003, Bush, com apoio incondicional do governo britânico, invadiu o Iraque sob a justificativa de que Saddam estaria guardando armas de destruição em massa, o que se comprovou, anos depois, que não era verdade. A invasão, no entanto, não foi aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU e rechaçada por grande parte da população mundial. Uma das grandes dificuldades dos norte-americanos foi enfrentar uma forte oposição da França e da Alemanha, tradicionais aliados.
Tutu lembra também as consequências do conflito na sociedade iraquiana de hoje. “6,5 pessoas morrem por dia em ataques suicidas provocados por explosões de automóveis, de acordo com o projeto Iraqi Body Count; mais de 110 mil iraquianos morreram nesse conflito depois de 2003, e milhões ficaram desabrigados. Até o fim do último ano, cerca de 4500 soldados norte-americanos morreram e mais de 32 mil ficaram feridos”, acrescenta.
Por essa razão, ele afirma que os responsáveis por esses números e perdas de vidas humanas “deveriam seguir o mesmo caminho que alguns de seus pares africanos e asiáticos, que tiveram de responder por seus atos diante da corte internacional de Justiça em Haia (Holanda)”, defende.
Resposta
O premiê britânico, no entanto, parece irredutível em suas convicções.  A resposta veio em seu site na internet, na qual Blair afirma que tem “um profundo respeito pela luta do Arcebispo contra o apartheir – onde estivemos do mesmo lado da luta”. “Mas repetir a velha história de que nós mentimos sobre [as conclusões dos serviços de ] inteligência é completamente errado, como todas investigações independentes já demonstraram”.
O ex-líder trabalhista também disse considerar bizarro o fato de Tutu ter dito que era “irrelevante” se Saddam “era bom ou mau”, pois isso não justificaria a “moralidade” da coalizão para invadir o Iraque, citando diversos massacres atribuídos ao ex-ditador.
Outra justificativa usada por Blair foi  que a economia iraquiana, segundo ele, cresceu três vezes mais do que na época do regime de Saddam, “e os investimentos cresceram enormemente em regiões como Basra”.



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